A receita de Eça de Queiroz – Prescrição médica oitocentista: Banhos de mar para os nervos, para a anemia e para a vista.
Carta de Eça de Queiroz a Ramalho Ortigão
Meu querido Ramalho
Tencionava partir além de amanhã aí — mas mudei de resolução em vista destas considerações:
Os médicos prescrevem-me impreterivelmente, urgentemente, o uso dos banhos de mar. Para os nervos, para a anemia e para a vista. Ora eu não quero tomar banhos nas praias de Lisboa, que são ou de lôdo — ou de soirée dançante — coisas igualmente detestáveis.
Tenho pois de tomar banhos ou aqui na Foz, ou em Espinho; por conseqüência se fosse a Lisboa tinha de voltar em Setembro, querendo Deus: só em viagens gastaria 4 ou 5 libras — o que é antieconómico. Resolvi pois ficar e ir já para a Foz.
Mas, para regular a minha vida, preciso que Você me diga — se tem algum dinheiro meu das nossas Farpas.
Francisco entregou-me aqui 13:000 rs.; faça pois as suas contas e diga-me, se posso contar com algum dinheiro que aí tenha. Sem esta base, não posso fazer cálculos à minha embrulhada vida. Depois eu resolverei ficar — ou partir para aí, melancolicamente, e cultivar a deusa dos mares.
Resposta rápida. No caso de eu ficar, trataremos de equilibrar o nosso trabalho sobre Farpas.
Seu, Queiroz
“Cartas de Eça de Queiroz” (Editorial Aviz, 376 páginas, edição de 1945)