A cidade do Porto e sâo Lázaro – Na Invicta Cidade do Porto, não poderia faltar a invocação a São Lázaro. Nos arrabaldes, fora da muralha Fernandina existia a leprosaria e os lázaros e lázaras.
Até há poucas décadas as pessoas afluíam em grande número à romaria de São Lázaro, no primeiro domingo da Paixão, no domingo anterior ao domingo de Ramos. Esta romaria realizava-se, nas imediações do Jardim de São Lázaro, hoje jardim Marques de Oliveira, incluindo a visita à igreja e aos doentes internados na instituição.
A igreja que toda a gente do Porto conhece como de São Lázaro é na verdade dedicada a Nossa Senhora da Esperança, de estilo barroco, com intervenção de Nicolau Nasoni. Nesta igreja existe uma imagem de São Lázaro muito venerada.
No retábulo do altar mor existem, também a imagem de Santa Marta, Santa Madalena (ao longo dos séculos foi confundida com Maria irmã de Lázaro) e São José.
Onde agora é o Colégio Nossa Senhora da Esperança, outrora foi o Real Recolhimento de Órfãs de Nossa Senhora da Esperança. Até aos dias de hoje todo o edifício e instituições pertencem à Santa Casa da Misericórdia do Porto.
A toponímia ainda preserva o nome do Passeio de São Lázaro no lado norte do jardim. De salientar que é o jardim público mais antigo do Porto, mandado fazer por Dom Pedro IV em agradecimento às senhoras do Porto, no tempo da guerra civil.
A rua de São Lázaro hoje é a avenida Rodrigues de Freitas.
Ainda duas curiosidades destes espaços: na parede lateral da igreja está um alarme sineiro com o nome dos lugares da cidade e respectivos toques para alarme de incêndio.
A outra curiosidade está no jardim de São Lázaro que é o chafariz da sacristia da igreja nova de São Domingos que foi destruída por um incêndio.
São Lázaro – quem foi?
A liturgia da Igreja Católica celebra a 29 de julho a memória dos três irmãos e amigos de Jesus: Marta, Maria e Lázaro. Era na casa deles que Jesus ficava, em Betânia, perto de Jerusalém.
Na Bíblia há várias referências a episódios passados em Betânia: quando Jesus foi hóspede da casa de Lázaro e Marta reclama porque Maria fica sentada a ouvir o Mestre.
Ou a passagem da ceia em casa de Simão Leproso, onde Maria usa um vaso de alabastro com perfume caríssimo de nardo para ungir os pés de Jesus. E o episódio mais marcante que foi a ressurreição de Lázaro, por Jesus, quatro dias após estar sepultado.
É interessante saber que Betânia, em hebraico, pode significar “casa da aflição”, “casa dos pobres”, “casa dos figos ou das tâmaras” e ainda “casa da Ananias”.
Sabemos que o drama da lepra era enorme em Betânia. Lázaro seria leproso, Simão era leproso, Maria seria, segundo alguns exegetas, uma pecadora pública que para estar com os seus clientes leprosos usava perfumes muito fortes para neutralizar o cheiro a putrefação.
Vemos a aflição no choro de Marta e Maria quando Jesus vem visitar o túmulo de Lázaro. Temos a referência a Jesus a chorar quando sabe da notícia da morte do seu amigo.
Devido a estas conotações históricas e bíblicas, São Lázaro foi associado como protetor dos leprosos e dos seus hospitais (as gafarias), sempre fora da cidade.
Por Sérgio Carvalho