O imaginário popular católico, mormente neste mês de junho, está povoado pelas emblemáticas figuras de Santo António, São João e São Pedro.
Eles motivam as festas de junho, inspiram quermesses, são razão de arraiais, além de suscitarem novenários e promessas.
Os três santos, juntos, inspiram a religiosidade popular e animam a fé de muitas pessoas.
Para além disso, numa perspectiva atualizada e madura da fé, podemos agregar a essas motivações o fato de que a vida e a história desses homens que viveram com radicalidade podem inspirar-nos na vivência de hoje.
Oh meu rico Santo António. Quem és tu, meu Santo?
Dentre a tríade junina, o primeiro a ser celebrado é Santo António. A vida desse homem ainda hoje serve de inspiração para a humanidade na fidelidade ao Evangelho.
Batizado sob o nome de Fernando, no século XII em Lisboa, tornou-se António ao dobrar sobre si o hábito do Povorello de Assis. Fez de si mesmo Frade da Ordem dos Cónegos Regulares da Santa Cruz, mas a paixão pela irmã pobreza e o sonho missionário o fez adentar na nascente Ordem dos Franciscanos.
Ao fim de sua vida, mesmo sendo um lisboeta, foi reclamado pelos italianos, sendo conhecido ora como António de Lisboa, ora como Antnio de Pádua. Esses ligeiros traços da vida de Santo António revelam um homem em permanente mudança. Lidos em conjunto ajudam-nos a refletir que a vida cristã e a fidelidade ao Evangelho, exigem um eterno remodelar-se, um permanente converter-se na busca de ser mais fiel ao Reino.
Assim, mesmo os mais fervorosos seguidores de Jesus, devem ser capazes de uma autocritica para cada vez mais se aproximarem da inigualável vida do mestre.
Oh eu rico Santo António, o professor
António, também regista sua história, foi professor. Ele havia recebido sólida formação junto aos Cónegos Regulares.
Douto em Sagrada Escritura, Literatura Patrística e Artes liberais, logo após o capítulo geral da Ordem dos Franciscanos em 1221 do qual o próprio São Francisco tomou parte, foi designado como professor em Bolonha.
Antes, porém, viveu alguns meses como eremita. Sua notável sabedoria o conduziu à missão de debater e dissuadir homens e mulheres que seguiam a doutrina dos cátaros e albigenses.
Sua metodologia, bem mais que o embate acirrado, comum à época, pautou-se pelo diálogo, pela reflexão e, em alguns momentos, pela persuasão.
A postura de António, como conhecedor da sua fé, inspira-nos ao conhecimento mais profundo do Evangelho. Convida-nos, igualmente, à capacidade de debater e dialogar com aqueles que creem diferente.
Em nossos tempos, marcado pela pluralidade de raça, credos e costumes, é cada vez mais um imperativo do Evangelho aprender a dialogar com a diversidade. António nos inspira a viver um evangelho que dialoga com o mundo diferente.
Oh meu rico Santo António, os teus milagres
Reza ainda a história que Santo António era já em vida um pródigo taumaturgo. Ele operou inúmeros milagres e, após sua morte, por sua intercessão alcançou diversas graças àqueles que acorrem aos seus favores.
Entre os milagres atribuídos ou ditos terem sido operados pelo Santo de Lisboa está a “Pregação aos peixes “; a “adoração a hóstia por uma mula ” e a “revelação da própria paternidade por um recém-nascido”.
Milagres, deve-se dizer, são sinais visíveis da ação de Deus na história. Não precisam, necessariamente, ser eventos excepcionais ou grandiosos.
Atestam, porém, que Deus age no meio da humanidade e, por vezes, mediado pela ação das pessoas. Nesse sentido, em nossos tempos, esse epílogo da vida de Santo António, no inspira a viver o Evangelho.
Necessitamos caminhar à luz da certeza da atuação de Deus na história e ler os Sinais dos Tempos, buscando realizar o milagre ordinário de garantir vida digna e plena para aqueles que são frágeis e vulneráveis.
Assim, Santo Antônio mesmo há mais de oitocentos anos de distância, ainda imprime por sua vida e história um modo de viver o Evangelho.
Na atualidade, dentre tantos modos que podemos viver os valores do Reino de Deus, o Santo de Pádua nos inspira a uma permanente conversão, a um constante diálogo com o mundo e a ler a história à luz dos traços distintivos do Evangelho. Supliquemos que o “Doctor Evangelicus”, rogue a Deus por nós para que sejamos dignos de viver o Evangelho de Cristo.