Foram publicados recentemente os rankings das
escolas portuguesas, em termos que continuam a
merecer justificadas críticas, não só porque não
traduzem, por um lado, o trabalho que vem sendo
desenvolvido em cada escola, assentaram num
fator unidimensional (mérito baseado em médias)
e, fundamentalmente, não levaram em conta a
diversidade de situação sócio-económica dos
alunos.
Além disso, os seus resultados são apresentados em
parangonas de competição entre os sectores
público e privado, que desde logo, traem os seus
objetivos.
De há muito é sabida a relação entre o estatuto
social dos alunos e o seu aproveitamento escolar.
Na verdade, alunos de estatuto social elevado têm
melhores condições e ambiente para obterem
melhor aproveitamento escolar.
Ora são estes alunos que frequentam,
maioritariamente, o ensino privado.
Por seu turno, as instituições de ensino privado, na
defesa e promoção do seu “negócio”, têm de
mostrar resultados da sua atividade, pelo que
tomam medidas tendentes à sua rentabilização.
Assim, começam por recrutar os docentes que mais
se têm distinguido no ensino público, acenando-
lhes com vencimentos mais elevados.
São rigorosos na admissão dos alunos e não se
coíbem de os convidar a sair, quando não atingem
os parâmetros pedagógicos delineados.
O sistema de ensino permite um acompanhamento
personalizado de cada aluno, o que leva à deteção
precoce das suas necessidades pedagógicas.
Ora na escola pública, pela sua universalidade, os
alunos pertencem a todas as camadas socio-
económicas (quantos deles vivem em condições
infra-humanas), não podem ser convidados a sair
das escolas quando apresentam menor
aproveitamento, os professores debatem-se com
problemas que os sucessivos governos recusam a
resolver, nomeadamente remuneratórios, e, não
obstante, realizam um trabalho notável no
aproveitamento escolar dos alunos, que não se
traduz nos rankings, por ir para além das médias.
Impõe-se, assim, denunciar, vivamente, este
tratamento propagandístico dos rankings a favor do
ensino privado e contra a escola pública, e, por
outro lado, exigir do Governo as medidas
necessárias para que a escola pública cumpra as
funções que lhe estão cometidas
constitucionalmente, por que tantos lutaram.
Por Álvaro Neto – director da “Gazeta de Paços de Ferreira”
____________________________________________________________________________