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Quarta-feira, Outubro 30, 2024

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O ouro (exploração) em Paredes

Os recursos geológicos, desde longa data, têm sido aproveitados pelo homem em benefício próprio e o ouro não escapou a esta desenfreada procura. Desde o dia em que a primeira pepita brilhante foi apanhada, o ouro tornou-se uma atração poderosa e cobiçada. No concelho Paredes a presença de ouro é manifestamente conhecida, com a sua exploração pelo menos desde o tempo dos Romanos.

Geologicamente, esta região está inserida numa megaestrutura designada por Anticlinal de Valongo e enquadrada no Distrito Mineiro Dúrico-Beirão, considerado o segundo maior distrito mineiro produtor de ouro do nosso país (com base os registos mineiros existentes e excluindo o ouro explorado pelos romanos), com cerca de 5.6t desse metal produzido.

Na região a sul e sudoeste do Concelho de Paredes, abrangendo essencialmente as freguesias da Aguiar de Sousa e Sobreira, podemos encontrar vestígios da atividade mineira desenvolvida neste território ao longo dos tempos, com principal destaque para o Couto Mineiro das Banjas e as Minas de Castromil e de Serra da Quinta. Importa referir que estas áreas correspondem a concessões mineiras que, em alguns casos, foram definidas a partir de meados do século XIX e que coincidem com os trabalhos deixados pelos romanos.

As evidências arqueológicas, ligadas à mineração no território de Paredes, estão relacionadas com os trabalhos de exploração subterrânea e a céu aberto, essencialmente sobre os filões mineralizados desde o afloramento até várias dezenas de metros de profundidade. Muitas vezes utilizando um sistema de galerias e poços de secção quadrangular (1,5-2m de lado, podendo alcançar os 60m de profundidade), que permitia a evacuação do minério e das águas, assim como a ventilação.

Existe ainda o espólio arqueológico recolhido à superfície, em trabalhos e estudos de prospeção arqueológica, que conta com:

» materiais cerâmicos: de construção – coberturas e pavimentos; doméstico – lucernas, fragmentos de pratos, panelas, cântaros e sigillata

» materiais líticos: mós circulares graníticas e apiloadores aplíticos, fragmentados ou inteiros

» materiais metálicos: referência ao aparecimento de moedas, uma delas do tempo de Constantino.

Importa, ainda, referir que nos trabalhos desenvolvidos para o estudo e conhecimento destas áreas mineiras, constatou-se a presença de povoados-oficina associados às galerias romanas, revelando a realização in loco do tratamento mecânico do minério – trituração e moagem – com recurso às mós e aos apiloadores.

O estudo destas evidências permitiu estabelecer que a exploração mineira de ouro remonta, pelo menos, à presença dos romanos, assim como podemos, ainda, mencionar que alguma documentação escrita do século XVIII e do início do século XIX faz referências a estes trabalhos remetendo-os também para esse povo, atestando a conclusão de estudos recentes que apontam para que façamos parte (juntamente com as minas de Valongo e Gondomar) do maior complexo de exploração mineira subterrânea do Império Romano.

O interesse por estas áreas permaneceu até aos nossos dias e isso é possível verificar através dos pedidos de concessão para a exploração de ouro e outros metais, a partir da segunda metade do século XIX, que levou à construção do Complexo Mineiro das Banjas, um conjunto de estruturas que serviram de dormitório para os mineiros, escritórios e lavarias para o minério.

Desde o início do século XX até à atualidade foi dispensada grande atenção às áreas mineiras do Concelho Paredes, materializando-se em trabalhos de exploração, ou mais recentemente em trabalhos de prospeção e pesquisa.

Esta é uma região rica, não só em ouro, mas também em outros metais (ex. chumbo, antimónio, prata, estanho,…) que levou à sua exploração desde o tempo dos romanos até aos nossos dias, deixando-nos um passado de história mineira e um património Geomineiro de grande relevância.

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Por Natália Félix

Referências bibliográficas:

CARVALHO, J. S., FERREIRA, O. V., 1954 – Algumas Lavras Auríferas Romanas. «Estudos, Notas e Trabalhos». Serviço do Fomento Mineiro. Porto. Vol. 9, 1-4, p.20-57.
COUTO, H. (2014) – Ouro explorado pelos Romanos em Valongo: controlos das mineralizações auríferas. In: Atas do 1º Congresso de Mineração Romana em Valongo. Valongo: Alto Relevo – Clube de Montanhismo e Câmara Municipal de Valongo

COUTO, H. (1993) – As mineralizações de Sb-Au da região Durico-Beirã. Porto: Faculdade Ciências da Universidade Porto. 2vols, p.607. Tese de Doutoramento

LIMA, A.; MATIAS RODRÍGUEZ, R.; FÉLIX, N; SILVA, M.A. (2011) – A Mineração Romana de ouro no Município de Paredes: o exemplo da Serra de Santa Iria e Serra das Banjas. In. Actas do VI Simpósio sobre Mineração e Metalurgia Históricas no Sudoeste Europeu (Vila Velha do Ródão – 2010). Abrantes, p. 125-142

MATIAS RODRÍGUEZ, R. (2014) – La minería del oro en el Imperio Romano y su puesta en valor: contextualización e importancia de la minería aurífera romana en el área ValongoParedes. In: Atas do 1º Congresso de Mineração Romana em Valongo. Valongo: Alto Relevo – Clube de Montanhismo e Câmara Municipal de Valongo
SOEIRO, T. (1984) – Monte Mózinho – Apontamentos Sobre a Ocupação entre Sousa e Tâmega em Época Romana. Penafiel – Boletim Municipal de Cultura. Penafiel. 3ª Ser., 1, p. 108-121.

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Texto editado por CM de Paredes

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