No mesmo dia em que o primeiro ministro de Portugal se reuniu com o chefe de governo de Espanha, na Galiza, anunciando uma cimeira luso-espanhola para desenvolvimento das duas regiões, nomeadamente para a exploração de lítio – matéria prima essencial para o desenvolvimento industrial – foi publicado um estudo da Associação Vale d’Ouro propondo a ligação da cidade do Porto a Madrid por TGV.
Um anúncio feito cinco dias depois de o presidente da CP se ter demitido por incapacidade financeira para comprar peças para a companhia, quatro dias depois do ministro das infraestruturas se ter queixado de falta de investimento do Governo na ferrovia e três dias depois do director financeiro da TAP ter anunciado a sua demissão.
O primeiro-ministro, António Costa, defendeu que a existência de reservas de lítio nas regiões de fronteira, quer do lado português, quer do lado espanhol, pode ser uma “oportunidade de desenvolvimento”.”A existência de reservas de lítio nestas regiões, de um lado e de outro da fronteira, pode ser uma oportunidade no desenvolvimento integrado de uma nova fileira industrial na área do armazenamento de energia, apoiada no conhecimento produzido no Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia de Braga e, agora também, no Centro de Investigação sobre Armazenamento de Energia em Cáceres [Espanha]”, afirmou o governante no encerramento do Fórum La Toja, na Galiza, em Espanha.
O desenvolvimento das regiões de fronteira é condição para se vencer o desafio demográfico e a valorização do interior, entendeu Costa que tinha, na primeira fila, o homólogo espanhol, Pedro Sánchez.
O primeiro-ministro sublinhou que estes territórios precisam de “projetos âncora” para os resgatarem do legado histórico de empobrecimento.
“Em toda a Europa, as regiões mais desenvolvidas são as regiões de fronteira, a exceção na Europa é, infelizmente, a fronteira terrestre oriental de Portugal e a fronteira oeste de Espanha”, vincou.
Alinhado com Costa, Pedro Sánchez referiu ser fundamental que o desenvolvimento de baterias se instale na Península Ibérica, realçando o facto dos dois países terem reservas de lítio.
O primeiro-ministro espanhol lembrou que, em julho, Espanha aprovou o primeiro projeto estratégico de veículos elétricos, identificando a necessidade de criar sinergias com Portugal.
Este tipo de projetos vai beneficiar a mobilidade sustentável na Península Ibérica e na Europa, reforçou
Pedro Sánchez revelou ainda que, este assunto, será alvo de discussão na próxima Cimeira Luso-Espanhola, que se realiza a 28 de outubro, em Trujillo, Espanha.
A Direção Geral de Energia e Geologia colocou na terça-feira em consulta pública o relatório de avaliação ambiental preliminar do Programa de Prospeção e Pesquisa de Lítio das oito potenciais áreas para lançamento de procedimento concursal.
O período de consulta está disponível até ao dia 10 de novembro.
No relatório de avaliação ambiental preliminar foram analisadas oito áreas do Norte e Centro do país: Arga (Viana do Castelo), Seixoso-Vieiros (Braga, Porto e Vila Real), Massueime (Guarda), Guarda — Mangualde (quatro zonas espalhadas por Guarda, Viseu, Castelo Branco e Coimbra) e Segura (Castelo Branco).
O Fórum La Toja reúne políticos, pensadores e empresários e teve como tema nesta edição de 2021 “Uma Oportunidade para Relançar o Vínculo Atlântico”.
O TGV OXALÁ
Este esforço de aproximação entre o norte de Portugal e a Galiza (e agora Madrid) vem de longe e tem sido defendido pela associação “Norte Atlântico” que reúne autarcas dos dois países. Na agenda das reuniões tem sido discutida a mobilidade interna, o valor estratégico do aeroporto do Porto e o porto de Leixões e a possibilidade (necessidade) de uma ligação por TGV entre Vigo e Porto.
Tendo em vista a possibilidades de investimento europeu nesta “euroregião”, as discussões neste forum são assim essenciais para o desenvolimento deste território habitado por mais de sete milhões de pessoas.
O estudo agora apresentado constitui uma proposta a ser analisada no âmbito da discussão do Plano Nacional Ferroviário. E quem poderá discordar da possibilidade de um comboio de alta velocidade que ligue Porto a Sanabria (Espanha) pequena cidade espanhola já servida por TGV com estação a 49 quilómetros de Bragança?
“Este eixo ferroviário representará um investimento que “permitirá devolver à região um caminho-de-ferro moderno, invertendo-se uma dependência exclusiva do transporte rodoviário” para a mobilidade de pessoas e bens. “Esta linha não só potenciará a coesão territorial e socioeconómica da região, como também permitirá aproximar a região Norte e o país da Europa Ocidental, numa estratégia alinhada e enquadrada nas políticas de neutralidade carbónica definidas pela Comunidade Europeia, as quais atribuem ao comboio o papel de espinha dorsal de todo o sistema de transportes”, acrescenta o comunicado.
A Associação Vale d’Ouro remeteu ainda um contributo versando a Linha do Douro, ainda que considere nesta fase que, após a aprovação da reabertura por unanimidade na Assembleia da República, o Plano Nacional Ferroviário “terá que inevitavelmente considerar esta ligação” – excerto do estudo da Associação Vale d’Ouro.
Os anúncios de linha TGV em Portugal, contudo, têm sido, infelizmente, manobras de ilusionismo pelo que se recomenda alguma moderação na análise da informação divulgada
Alta velocidade entre Lisboa e Madrid até 2023
Obras em curso na linha vão facilitar o transporte de mercadorias entre Portugal e Espanha.
Raquel Oliveira27 de Janeiro de 2021 às 08:43A ligação em alta velocidade entre Lisboa e Madrid deverá estar concluída em 2023, com o objetivo de “ligar o País” e não apenas as capitais portuguesa e espanhola, disse esta terça-feira o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santo. Nesta primeira fase, a ligação será prioritariamente para o transporte de mercadorias entre os dois países.
“Queria dizer que a ligação entre Lisboa e Madrid está já a ser construída, está em execução. Prevemos, até final de dezembro de 2023, termos uma ligação entre Lisboa e Madrid em alta velocidade”, disse o ministro português numa audição por videoconferência na Comissão de Transportes e Turismo do Parlamento Europeu.
“Nós não nos podemos esquecer em nenhum momento é que, quando estamos a fazer novas linhas de alta velocidade, a par da nova ligação entre as capitais, temos também de ligar o nosso território”, insistiu Pedro Nuno Santos. As intervenções em curso na infraestrutura ferroviária passam pela ligação entre Évora e a cidade de Elvas/Caia .O projeto de alta velocidade ferroviária, que prevê uma velocidade máxima de 350 quilómetros/hora, foi suspenso em 2011, obrigando o Estado a indemnizar o consórcio vencedor.
Este texto de Raquel Oliveira foi publicado no Correio da Manhã, na data indicada. Mantenhamos a curiosidade e veja esta peça editada no Público a 15 de Julho de 2006 – https://www.publico.pt/2006/07/15/politica/noticia/jose-socrates-diz-que-ligacao-por-tgv-entre-lisboa-e-madrid-vai-avancar-1264184José Sócrates diz que ligação por TGV entre Lisboa e Madrid vai avançar
Sócrates afirma que o debate proposto pelo chefe de Estado existe há dez anos e vai continuar. Ontem, Cavaco Silva disse que seria debater a rentabilidade de grandes investimentos para se “saber se, de facto, contribui para uma melhoria do bem-estar dos portugueses”, defendendo, nesse sentido, a necessidade de “análises custo-benefício muito profundas” sobre o “dossier”.
Para o primeiro-ministro, o avanço no projecto do TGV deve ser feito “com o ritmo apropriado, apostando desde já na ligação a Madrid também para transformar o território da Península Ibérica num território mais competitivo”. “O importante deste debate é que informa de modo claro todos os portugueses as vantagens e os custos que a rede de alta velocidade tem em Portugal”, frisou.
Como se sabe este investimento foi anulado e o Governo foi obrigado a indemnizar as empresas que concorreram e ganharam a “obra” . A notícia que vai ler a seguir é da TSF e foi publicada em 14 de Abril de 2011:
Mota-Engil vai pedir indemnização devido a anulação do troço Lisboa-Poceirão
António Mota, presidente da Mota-Engil, indicou que a empresa vai pedir uma indemnização por causa dos custos tidos no concurso para o troço do TGV entre Lisboa e o Poceirão.