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Quarta-feira, Outubro 30, 2024

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Mistérios da Santidade, talvez da Contabilidade

A morte de Otelo Saraiva de Carvalho suscitou muitas opiniões, até quem dissesse aqui pelo FB que a sua alma ia para o inferno, já que alguém tinha comentado que a sua alma descansasse em paz. Não te preocupes Otelo, ficas mais bem servido no inferno que no céu. Repara:
“Dizem que se come bem no inferno
Que o Diabo é dado a estas coisas
Tem muitos filhos para sustentar.
Come-se mais mal no céu
A gula é um pecado
E são tão poucos a comer
Que não vale a pena cozinhar”
(Leonor Fernandes, Solitário Criador).
Talvez encontres por lá o Maquiavel, e se for o caso, diz-lhe que o admiro. Aquele Maquiavel que dizia: Quando morrer quero ir para o inferno, sempre encontro gente inteligente para conversar, que no céu só há beatos enfadonhos.
E tu, Otelo, ainda tens que te preocupar com aquilo que o Maquiavel não se preocupou. Falo do céu cheio de criaturas medonhas, mas tão católicos que só podiam ir para o céu. Neste caso nem se trata apenas de encontrar beatos enfadonhos, mas criminosos que deviam ficar perdidos pelo espaço etéreo, sem Deus que os acolhesse.
No céu encontras, por exemplo, Salazar e Pinochet, e tenho a certeza que ias discutir com eles, quebravas a subtil paz do paraíso. Ficas melhor no inferno, não tens ditadores enfadonhos, ficas livre de chá e torradas, quem sabe se do S. Pedro a chegar com uma sandes e uma cervejinha para o jantar. São tão poucos que não vale a pena cozinhar.
Mas faz um favor Otelo: não te mires ao espelho que não chegas a Che Guevara, aquele que para desgosto de muitos passou a santo na terra onde foi executado.
São mistérios da santidade, ficas entregue aos pimentões flamejantes. O papa até pode tocar para o céu, mas não te preocupes que no inferno vais encontrar Tchaikhowski, Bethowen e sei lá quantos mais, principalmente violinistas, que a Igreja e os ditadores mandaram para o inferno.
Por Leonor Fernandes

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