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Quarta-feira, Outubro 30, 2024

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24 de Abril de 1974

 Seria um dia como os outros, ou censurado, mas foi diferente. O meu pai chegou a casa depois da meia-noite com um grão na asa, ligou o rádio, e vai daí exclamou:
– O Zeca a cantar? Estranho… está censurado.
Estava, mas era o Zeca cantando “Grândola Vila Morena”. Alguns anos depois, em Azeitão, na casa do Zeca, que tive o privilégio de frequentar, contei esta cena ao Zeca. Ele fartou-se de rir e disse: “Censurado sim, mas não mudo”.
Abril foi o tempo do tempo inesquecível. Em tantos lugares do mundo por onde passei, e foram muitos, diziam-me: És de Portugal, a terra dos cravos de Abril! Lindo!
Em todo o mundo existem cravos, mas os nossos são especiais, são vermelhos e são de Abril, são Liberdade.
Quem quiser que entenda este sentimento que me prende ao 25 de Abril como um pintor que contempla um rio de água doce. Mas daí, pensamentos dolorosos, neste caso o Gramsci, preso por causa dos seus escritos inteligentes, assertivos, revolucionários e libertários.
Mas sem um cravo de Abril que lhe valesse. Quando foi preso, o promotor declarou:
“_ Por vinte anos devemos impedir o funcionamento desse cérebro”.
Condenado a 20 anos de prisão, faleceu em 1937.
A ditadura italiana calou Gramsci, mas não impediu o funcionamento do seu cérebro. A sua cunhada Tatiana conseguiu que os seus escritos na prisão chegassem a lugar seguro. Estão disponíveis para quem os quiser ler.
É o filósofo da revolução sem revolução, ou a revolução dos cérebros que deve continuar Abril de 1974.
Para que o meu quadro “O Homem que Chora” seque as lágrimas. Com cravos, pois então, para que nenhum ditador proclame em algum tribunal:
“ – Por vinte anos devemos impedir o funcionamento dos pincéis”
Leonor Fernandes

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